Mapas que davam mais destaque às favelas que aos bairros tradicionais vão ser corrigidos num ano
O Rio de Janeiro tem 481 favelas e 144 complexos mas tem complexos com as suas favelas. Assim, a quatro anos dos Jogos Olímpicos na cidade, o facto de o Google Maps dar o mesmo ou mais destaque a favelas e complexos que a bairros da classe média carioca torna-se assunto de Estado. O braço-de-ferro foi ganho pela prefeitura da cidade, que já em 2009 sugerira uma correcção. O que então se apresentava como "impossível" para a Google, poderosa empresa online norte-americana, tornou-se agora alterável "no prazo de seis meses a um ano".
"Um absurdo!", queixou-se a prefeitura do Rio, chefiada por Eduardo Paes. "Não tivemos intenção de difamar", desculpou-se a Google via porta-voz. Em causa o facto de, por exemplo, o bairro Cosme Velho, onde se situa o bondinho do Corcovado, ter menos destaque que a Favela da Vila da Imaculada Conceição no Google Maps. E de o Bairro Humaitá também perder a favor da favela com o mesmo nome ou o tradicional Autódromo do Jacarepaguá aparecer engolido por nove complexos circundantes. Afinal as favelas ocupam apenas 3,8 por cento da área da cidade, mesmo sendo 625 (somadas aos complexos). Contudo, estão espalhadas pela metrópole, ao contrário, por exemplo, do que acontece na vizinha e rival São Paulo, cujas favelas vivem na periferia.
A Google desculpou-se inicialmente com a Map Links, a quem compra os dados que depois trata online. A Map Links diz que fornece dados mas não tem responsabilidade em destaques gráficos. Segundo Sérgio Besserman, especialista em mapas ouvido por "O Globo", a razão do destaque dado às favelas pode estar no facto de a Map Links ter usado a informação de um instituto que só se detém nas zonas carenciadas.
O certo é que numa era em que o Rio e todo o Brasil se pretende o mais maquilhado possível por conta do Mundial 2014, dos Olímpicos de 2016 e da suposta liderança dos BRICS, tirar (ou pelo menos esconder) as favelas do mapa é prioritário. Nem que para isso seja preciso pôr a Google de joelhos.
Comentário sobre a matéria
Ana Bela Couteiro Há 3 horas
O Brasil devia preocupar-se em acabar com as favelas, já que tem tantos recursos e está a crescer (?) conforme agora se diz na linguagem da economia. Ao invés preocupa-se em escondê-las dos olhos do mundo (como se isso fosse possível), realçando que o que deve ser mostrado são os outros bairros para que o mundo pasme. Enfim, o mundo não muda mesmo, embora se torne evidente que há realidades indesmentíveis. Nos USA, considerado um dos países mais desenvolvidos em várias áreas, com cidades emblemáticas e extraordinárias, há miséria e sem abrigo, gente que não tem acesso aos bens mais elementares. Em Londres, em Paris, em Lisboa ... No entanto o Brasil quer esconder e obriga a Google a fazê-lo. Palavras para quê?
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