As diferentes faces do Pará
Em 11 de dezembro, os moradores das regiões que
poderão ser transformadas nos estados de Tapajós, Carajás e no chamado “Pará
remanescente” terão que decidir se querem ou não a divisão do estado. A decisão
acarretará impactos que vão desde a repartição dos recursos federais até a
alteração da identidade cultural dos paraenses. A pouco mais de uma semana do
plebiscito, a população do interior do estado está completamente desinformada.
Alguns sequer sabem que terão de fazer uma escolha daqui a poucos dias. A
reportagem do site de VEJA percorreu os municípios de Altamira, Senador José
Porfírio e Anapu, na região da tríplice fronteira entre os novos territórios e
constatou: antes de pensar em dividir, o país deveria pensar em
informar.
Cléo José Alves da Silva, secretário de
Administração, Planejamento e Finanças de Senador José Porfírio, município de
14.000 habitantes às margens do Rio Xingu, mostra onde ficará a cidade caso
sejam criados os estados de Tapajós e Carajás. Por ter sua área descontínua,
cortada em duas por Anapu, Senador José Porfírio permaneceria metade no Pará
remanescente e metade em Tapajós. Em março deste ano, ficou decidido que a
cidade integraria a região tapajoense. O problema foi resolvido, mas a população
continua em dúvida sobre o próprio endereço
Leonor da Silva Pereira, 51 anos, e sua mulher
Maria Lúcia Gabriel da Silva, 46, moram em Pacajá, município de 40.000
habitantes a 600 quilômetros de Belém ─ que, com a divisão do estado, passaria a
integrar Carajás . “Votamos ‘sim’ para a divisão”, diz Leonor. Maria Lúcia sofre
com um mioma no útero. O agricultor gasta mais de 1 000 reais com exames e
deslocamentos para Altamira e Novo Repartimento, cidades mais populosas. “Aqui
nessa região não tem hospitais nem médicos. Os que existem só atendem quem está
com a vela na mão, quase morrendo. Acho que com a criação dos novos estados,
tudo vai melhorar”
A quinze dias do plebiscito que pode dar início
à criação dos estados de Tapajós e Carajás, Crisleine Pacheco do Nascimento, 25
anos, vendedora em Senador José Porfírio, não sabia em que votar. A televisão
trouxe a resposta. “Eu estava em dúvida sobre o meu voto, mas aí começaram a
falar sobre o ‘não’ na televisão e eu decidi ir contra a divisão”. Ela assiste o
único canal disponível para as populações que habitam as margens do Rio Xingu, a
TV Liberal. O dono, Rômulo Maiorana Junior, declarou-se contrário à
divisão
O radialista José Nilton da Silva, 41, mora há
um ano em Anapu, município de 20.000 habitantes à beira da rodovia
Transamazônica. “Desde que estou aqui, não vi ninguém dizer que é contra a
criação de Carajás”. Segundo ele, os anapuenses costumam telefonar para a rádio
para reclamar dos sistemas de saúde e educação do município, muito precários.
“Aqui falta água e luz quase todos os dias. O povo acredita que os serviços e a
distribuição de renda vão melhorar com a divisão do novo estado
O seringueiro Iolando Morais Pimentel, de 48
anos, vive com a família em uma casa de palafitas isolada às margens do Rio
Xingu. Ele soube do plebiscito por meio do rádio, que frequentemente anuncia a
votação. Francisco não sabe ao certo por que, mas acredita que seu voto faça
sentido: “Fica do jeito que está”, afirma. “Se tiver divisão, só vai aumentar a
quantidade de corruptos”. Faz sentido
Na viela de palafitas no centro de Altamira,
pelo menos quatro pontos de venda de drogas funcionam incólumes. Os moradores
estão completamente alheios ao plebiscito. Para eles, todas as esperanças de
crescimento e desenvolvimento estão depositadas na construção da Usina
Hidrelétrica de Belo Monte, a 40 quilômetros dali
Na região que abriga a tríplice fronteira entre Tapajós,
Carajás e o chamado Pará remanescente, a exploração da madeira é uma das
principais fontes de renda. Na fotografia, uma serraria funciona a todo vapor em
Anapu, a cerca de 600 quilômetros de Belém. As toras de madeira foram cortadas
com a autorização do Ibama, mas muitas pessoas continuam destruindo a floresta
clandestinamente
Natural de Piripiri, no Piauí, Antonia Melo da
Silva, 61 anos, mora em Altamira há 55 anos. Ela é a coordenadora do Movimento
Xingu Vivo Para Sempre, criado para combater a construção de hidrelétricas no
Rio Xingu. Para ela, o problema da pobreza no interior do Pará está longe de ser
resolvido com a divisão do estado. “O que falta é boa gestão”, diz. Segundo
Antonia, o plebiscito sobre a criação de Carajás e Tapajós deveria abranger toda
a população brasileira. “A estrutura dos novos governos vai sair dos bolsos dos
contribuintes brasileiros”, afirma
O seringueiro Iolando Morais Pimentel, 48, e
sua mulher Etelvina Batista Pimentel, 43, vivem há três anos em uma casa de
palafitas isolada às margens do Rio Xingu. Souberam do plebiscito pelo rádio. As
notícias, contudo, não esclarecem a importância da votação. “Se for Tapajós, a
gente vai ter que trocar os documentos de identidade, né?”, pergunta
Etelvina
A pecuária domina os arredores de Anapu ─ que
depois da divisão passaria a integrar o estado de Carajás. Na região, é fácil
perceber as consequências do desmatamento. Com as margens desmatadas, o Rio
Xingu passou a ter o fundo forrado por bancos de areia trazida pelas chuvas. As
montanhas de terra dificultam o tráfego de barcos e alteram o ecossistema. Caso
a divisão do estado seja aprovada, a previsão é de que os desmatamentos aumentem
na região
Na periferia de Altamira, onde só existem casas
de palafitas, uma moradora aproveita o “verão” (como é chamada a época em que
não chove) para estender as roupas ao sol. No chamado “inverno”, época das
chuvas, que começa a partir de janeiro, a área de terra e mato que aparece na
fotografia fica coberta por água e lama. Quando isso acontece, os poços
artesianos que abastecem a vizinhança e os dejetos acumulados em fossas rasas se
transformam num só lago, onde as crianças nadam livremente
Vigilante de uma construtora no bairro de São
Domingos, em Altamira, Francisco das Chagas da Silva, 41 anos, impressiona pela
sinceridade: “Aqui, todo mundo é leigo. Ninguém como votar no plebiscito.
Ninguém nunca viu uma divisão de estado, nem sabe o que pode acontecer de bom ou
ruim”
As periferias dos municípios da região central
do Pará, como Altamira (foto), sofrem com o esquecimento. Por ali, a presença do
poder público é quase nula. Não há água encanada, coleta de lixo nem de esgoto.
A luz elétrica chegou há menos de um ano. Para os moradores, o plebiscito é mais
uma invenção de políticos demagogos. “O povo aqui está saturado de políticos”,
conta Elys Araújo, 35, predreiro. “Eles nunca cumprem as
promessas”
Todos os dias, a
dona-de-casa Ângela Maria, de 34 anos, mistura cloro à água retirada dos poços
artesianos que abastecem seu bairro, na periferia de Altamira. A mistura lhe dá
tranquilidade para matar a sede dos filhos. Questionada sobre a criação dos
estados de Carajás e Tapajós, Ângela retruca com outra pergunta: “Por que querem
dividir? É porque a verba vai ser grande?”Veja a matéria na íntrega Clicando Aqui
politica com pimenta
O Pará é o segundo maior estado em território nacional, e também o mais rico do país em recursos naturais. E isso despertou muito interesse em empresários e políticos que decidiram criar mais dois estados para investir altamente nessas riquezas e no desenvolvimento da região.
ResponderExcluirMas como tudo tem um lado bom e um lado ruim. Não podemos deixar de lado os problemas que irá causar à população.
Os gastos na criação serão enormes com investimentos políticos e de infraestrutura, terão que aumentar o numero de senadores, governadores, prefeitos e etc.
E sem contar os prejuízos ambientais que serão causados com aumento da agropecuária na região. E tudo isso será cobrado de todos nós.
Esse problema não e de hoje que está acontecendo. A população deveria acordar e agir para que isso não aconteça. Pois o Brasil ainda não tem condições para bancar esse projeto.
O Pará é um estado enorme, rico em reservas naturais e muita necessidade de desenvolvimento. Os políticos sabem que, para dividir um gigante como o Pará, é preciso a liberação de verbas astronômicas. Essas verbas necessitam de pessoas especializadas para administrá-las, e em nossa fauna política existem excelentes candidatos. Depois da verba trabalhada e o Estado devidamente dividido, surge mais uma fonte de corrupção
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