SÃO PAULO - Lindemberg Alves, de 25 anos, foi condenado a 98
anos e 10 meses pelo assassinato da ex-namorada Eloá Pimentel, em Santo André,
ABC paulista. Após quatro dias de julgamento, a juíza Milena Dias deu a sentença
na noite desta quinta-feira, 16. O crime ocorreu em 2008.
Ele era acusado de 12 crimes, incluindo homicídio doloso de
Eloá, dupla tentativa de homicídio de Nayara Rodrigues e um policial militar
baleado, cárcere privado e disparo de arma de fogo. Ao todo, Milena o condenou a
98 anos e 10 meses de prisão em regime fechado, mais pagamento de 1.320
dias/multa. No entanto, pela legislação penal brasileira, o tempo máximo de
prisão é 30 anos.
O júri era formado por sete pessoas - seis homens e uma mulher
- que ouviram os depoimentos de 13 testemunhas e do réu durante a semana de
julgamento. Depois dos debates da promotoria e defesa, os jurados se reuniram
para responder um formulário com cerca de 50 questões sobre o caso.
Lindemberg falou pela primeira vez sobre os dias de cárcere no
apartamento da ex-namorada em juízo. O acusado foi a última pessoa a ser ouvida.
Durante o depoimento, logo após pedir perdão à família de Eloá, ele assumiu que
atirou contra a garota. A mãe da vítima, Ana Cristina Pimentel, não acompanhou o
dia de oitivas do acusado.
Segundo o depoimento dele, o assassinato não foi intencional.
'Quando a polícia invadiu, a Eloá fez menção de levantar e eu, sem pensar,
atirei. Foi tudo muito rápido'. O jovem disse que ficou surpreso com a chegada
da polícia nos arredores do prédio e se apavorou.
Durante o julgamento, a advogada de Lindemberg, Ana Lucia
Assad, tentou apontar corresponsáveis pelo crime, como mídia pela cobertura e a
polícia pela ação de invasão ao apartamento, além de amenizar a imagem do
acusado. Ela também deixou claro, no último dia, durante os debates, que não
esperava que Lindemberg fosse absolvido. 'Ele errou e deve pagar por isso',
afirmou.
Ana Lucia, porém, tentou convencer os jurados de que Lindemberg
deveria ter as acusações amenizadas. Segundo a defesa do réu, as acusações
teriam de ser homicídio culposo (quando não há intenção) pela morte de Eloá;
dupla lesão corporal culposa pelos disparos que atingiram Nayara Rodrigues e um
PM; e ser absolvido da acusação de cárcere privado contra os amigos de Eloá.
Relembre o crime
Há três anos, Lindemberg foi responsável pelo mais longo caso
de cárcere privado do Estado de São Paulo, acompanhado em tempo real por todo o
País. Às 13h30 do dia 13 de outubro de 2008, o auxiliar de produção invadiu um
pequeno apartamento em um conjunto habitacional de Santo André, onde quatro
adolescentes estudavam.
Inconformado com o fim do namoro com Eloá Cristina Pimentel,
de 15 anos, Lindemberg, então com 22, fez reféns a jovem, a melhor amiga dela,
Nayara Rodrigues da Silva, e dois rapazes. Às 20h, o pai de um dos meninos,
estranhando a demora do filho, bateu à porta do apartamento em que Eloá morava e
ouviu Nayara dizer para ele se afastar.
A polícia foi acionada e faz cerco ao local. No mesmo dia, os
dois garotos foram liberados, mas as amigas ficaram sob a mira do revólver de
Lindemberg. Do lado de fora, jornalistas, policiais e populares acompanhavam o
sequestro.
No final da noite do dia seguinte, Nayara foi libertada pelo
sequestrador. A garota, em uma decisão criticada, voltaria na manhã do dia 15 ao
cárcere, depois de já ter prestado depoimento à polícia, para negociar. Nayara
só sairia de novo do local, ferida, no dia 17, com Eloá e Lindemberg.
Às 18h08 daquela sexta-feira, policiais do Grupo de Ações
Táticas Especiais (Gate), em ação polêmica, invadiram o apartamento. Tiros foram
disparados. Eloá e Nayara foram atingidas: Eloá, na virilha e na cabeça, e a
amiga, no rosto. Lindemberg, sem ferimentos, foi detido e levado para o 6º DP. A
ex-namorada morreria no dia seguinte, às 23h30.
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